• VISITA DE ESTADO DO PRESIDENTE RAJOELINA A ANGOLA - CHEFES DE ESTADO FALAM AOS JORNALISTAS


    Num derradeiro momento da passagem de Andry Rajoelina pelo Palácio Presidencial esta quinta-feira, o Presidente de Madagáscar e o seu anfitrião, o Presidente João Lourenço, falaram aos repórteres que cobriram a actividade na Cidade Alta. Os Presidentes fizeram, primeiro, declarações genéricas aos jornalistas e, depois, disponibilizaram-se para as perguntas destes. ⏺️ DECLARAÇÃO INICIAL DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO Senhor Presidente Andry Rajoelina, Presidente da República de Madagáscar; Senhores membros das delegações de Madagáscar e de Angola; Senhores ministros; Senhores jornalistas; Angola tem o privilégio de ter entre si Sua Excelência Senhor Presidente Andry Rajoelina, com uma importante delegação governamental, a realizar a primeira visita de Estado de um Chefe de Estado de Madagáscar a Angola. Como sabem, Madagáscar é um país-irmão que está localizado aqui na nossa região da África Austral, membro da SADC, com quem mantemos muito boas relações de amizade, de cooperação, praticamente desde os primeiros dias da nossa Independência. As nossas relações de cooperação ao longo destes anos não conheceram o nível de evolução que gostaríamos que tivessem e acreditamos que a partir desta visita de Estado do Presidente Rajoelina nós vamos virar a página e imprimir uma outra dinâmica a esta relação de cooperação entre os nossos países. Existe o interesse comum de cooperarmos em diferentes domínios das nossas economias e, por esta razão mesmo, esta manhã acabámos de assinar alguns importantes instrumentos jurídicos de cooperação que vão, com certeza, tornar mais fácil a concretização deste desejo mútuo de estreitamento das relações de cooperação económica. Gostaria de destacar o Acordo Geral de Cooperação. Os acordos foram assinados nos domínios dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, bem como da Energia, sem prejuízo dos outros acordos e memorandos de entendimento que foram assinados em outros domínios. Portanto, Senhor Presidente, nós, para além dos acordos assinados esta manhã nesses domínios que foram citados, estamos abertos a identificar e a explorar outras áreas de cooperação, nomeadamente na Agricultura, na Agropecuária, no Turismo, e em outras que sejam de interesse recíproco entre Angola e Madagáscar. Vamos fazer esforços no sentido de realizarmos, de imediato, a primeira reunião da Comissão Mista Bilateral, importante instrumento para a materialização dos acordos que acabámos de assinar e abrir caminho para a assinatura de futuros acordos aqui ou em Antananarivo. Mais uma vez, Senhor Presidente, deixa-me aproveitar a oportunidade para desejar-lhe as boas-vindas a Angola. Fazer votos de que esta sua missão seja um sucesso. E tudo indica que sim, será um sucesso. Ainda temos pela frente parte do programa por cumprir. E dizer que, no quadro da reciprocidade, eventualmente, na primeira oportunidade também penso em realizar uma visita de Estado a Madagáscar. Muito obrigado! Muito obrigado, Senhor Presidente! ⏺️ DECLARAÇÃO INICIAL DO PRESIDENTE ANDRY RAJOELINA Senhor Presidente; Senhoras e senhores ministros; Jornalistas; Eu quero declarar que eu estou muito satisfeito com a visita de Estado que estou a efectuar a Angola. Os laços de amizade entre Angola e Madagáscar são históricos. Nós nos batemos muito para a independência e sabemos também que Angola trabalhou muito para o restabelecimento da paz. Mas, agora, temos um desafio para atingir. E esse desafio é o desenvolvimento do país, que o povo espera; o bem-estar do povo. Em Madagáscar, nós precisamos, nós necessitamos, de industrializar o nosso país. Nós queremos produzir e também transformar em Madagáscar o que o povo necessita, razão pela qual é importante que nós desenvolvamos apoio mútuo. E a assinatura hoje do Acordo Geral é o início dessa cooperação entre Angola e Madagáscar. Estou convencido também que a chave do sucesso disso é a implementação da cooperação Sul-Sul. E também colocar o acento sobre o pan-africanismo. A África tem muito potencial. Madagáscar tem muitos recursos e Angola também, porque Angola é um grande país que tem muito petróleo. E nós temos um grande potencial em África, muito mais do que muitos de nós cremos. O continente africano tem uma superfície de 30.370.000 quilómetro quadrados, a Europa 10.530.000 quilómetros quadrados, os Estados Unidos 9.834.000 quilómetros e a China 9.597.000 quilómetros quadrados. África é maior que toda a Europa, os Estados Unidos e a China juntos! Estou convencido de que nós unidos, se instauramos a solidariedade, os países africanos podem mudar o curso da História. Por esta razão, é importante apoiar-se mutuamente e partilhar as nossas experiências. A visita a Angola é razão para me sentir honrado, Senhor Presidente, pelo acolhimento, para reforçar o relacionamento de amizade, solidariedade e a cooperação entre Madagáscar e Angola. É meu desejo que essa amizade entre Angola e Madagáscar perdure. Muito Obrigado! ⏹️PERGUNTAS DOS JORNALISTAS RNA Começo por perguntar ao Presidente João Lourenço: foi destacado aqui, no início destas cerimónias, a excelente relação de amizade entre Angola e Madagáscar, mas, igualmente, os longos anos de distanciamento, sendo que apenas em 2017 tivemos aqui uma visita oficial do antigo Presidente de Madagáscar, que marcou então a oficialização dessas relações entre Angola e Madagáscar. Gostava de saber o que esteve na origem deste distanciamento e o que agora se pode esperar? A pergunta serve para os dois Chefes de Estado. PR JOÃO LOURENÇO - A nosso ver, não existe nenhuma razão em particular que possa estar na base deste – não diria distanciamento, talvez não fosse correcto utilizar-se essa expressão - mas pouco desenvolvimento das relações de cooperação económica entre os nossos países. O mais importante é olharmos daqui para frente. Fazermos com que o tempo que não foi suficientemente bem utilizado nas relações de cooperação, em proveito dos dois países, seja recuperado e consigamos então compensar esse gap existente até à presente data. Isso não acontece apenas com Madagáscar. Pode-se pensar que existirá uma razão em particular. Não existe! Há outros casos em que mesmo aqui no continente, em que temos relações diplomáticas firmadas há alguns anos e onde, por exemplo, não tínhamos uma embaixada, ou não houve troca de visitas ao mais alto nível, a nível de Chefes de Estado. Portanto, mais importante do que estarmos à procura das razões dessa situação, é procurarmos corrigir esta situação. PR RAJOELINA - Quando se tem vontade, mas não existe acção, isso não é eficaz. O que eu quero dizer é que, neste caso, é a acção que faltou. Mas agora nós queremos fortalecer a relação entre os dois países. E hoje temos barreiras que foram quebradas. E este é o dia em que temos vontade de reforçar as relações através de acordos que foram assinados hoje. E nós podemos a partir daqui alcançar o nosso objectivo. E igualmente este momento vai ser marcado pela aceitação do convite que enviámos a Sua Excelência Senhor Presidente João Lourenço para fazer uma visita de Estado a Madagáscar. JORNAL EXPRESSO [de MADAGÁSCAR]- A minha primeira questão é dirigida ao Senhor Presidente da República de Angola. O que é que espera das relações de cooperação entre Angola e Madagáscar? A segunda questão é dirigida ao Presidente de Madagáscar. Qual é o futuro da cooperação entre Angola e Madagáscar? PR JOÃO LOURENÇO - O que eu espero das relações de cooperação económica entre os nossos dois países, Angola e o Madagáscar, é uma cooperação que seja aberta e do interesse de ambos os países. Uma cooperação dinâmica em praticamente todos os domínios das nossas economias, em todos aqueles assuntos que sejam por nós identificados como sendo assuntos de interesse comum para Angola e para Madagáscar. Portanto, este é nosso objectivo, o de levar a cabo com o Madagáscar uma cooperação que seja salutar e que seja do interesse de ambas as partes. PR ANDRY RAJOELINA - O que nós estamos a realizar hoje é um novo capítulo da nossa história comum. Eu vejo um melhor futuro, uma cooperação reforçada e laços que vão perdurar. TPA - Muito boa tarde aos Senhores Presidentes! A minha questão é mais no aproveitar da oportunidade. Ela é sobretudo dirigida ao Senhor Presidente de Angola, João Lourenço. Foi alcançado um cessar-fogo entre o Ruanda e a República Democrática do Congo que poderá levar, ao nosso ver, alguma calmaria ao leste daquele país que muito sofre com a guerra. Este acordo foi alcançado em Luanda, sob os auspícios da República de Angola. Pergunto-lhe, ou pelo menos peço-lhe um comentário do que significará este cessar-fogo. E depois, quais serão os passos subsequentes? PR JOÃO LOURENÇO - Como sabem, este não é o primeiro cessar-fogo que se alcança no conflito que opõe os dois países vizinhos. Houve um primeiro que durou meses, mas que, infelizmente, por razões de diversa ordem, que não interessa trazer aqui neste momento - o importante é sermos positivos, sermos optimistas e irmos para frente… Felizmente, conseguimos, agora no dia 30 do mês de Julho, alcançar um segundo cessar-fogo que vai entrar em vigor no próximo domingo, portanto, dia 4 de Agosto. Tudo faremos para que não haja nunca mais necessidade de negociarmos um terceiro cessar-fogo. Ou seja, por outras palavras, quero dizer que uma vez entrado em vigor este cessar-fogo, no dia 4, que nunca mais regressem as hostilidades entre as partes. Portanto, o que vamos fazer é trabalhar, é lutar para evitar que haja retrocessos e que consigamos então um acordo de paz que seja definitivo entre aqueles dois países-irmãos e vizinhos: a RDC e o Ruanda. A pergunta vai ainda em querer saber quais os passos seguintes. Bom, o cessar-fogo nem sequer ainda entrou em vigor…Só a partir do próximo domingo é que entra em vigor. Eu creio que ainda é cedo para dizer quais serão os passos seguintes. Eu falei ontem com o Presidente Tshisekedi ao telefone, penso fazer o mesmo hoje com o Presidente Paul Kagame. A seu devido tempo serão conhecidos os passos seguintes. Obrigado!