A província de Cabinda poderá atingir uma produção acima das 700 mil toneladas de cacau, até 2026, no âmbito do Projecto Cadeia de Valores Agrícolas (PCVA), informou o coordenador do projecto. O engenheiro agrónomo José Fernandes disse ao Jornal de Angola que, neste momento, estão a ser produzidas, na província, mais de 300 mil toneladas de cacau. "Os indicadores são animadores. Se a produção continuar com este ritmo, a província poderá alcançar, dentro de um período de dois anos, mais de 700 mil toneladas”, adiantou.~ Segundo o responsável do PCVA em Cabinda, até 2026, a quantidade a ser produzida ainda não será a recomendável para a exportação do cacau. "A província deverá alcançar uma produção mínima de um milhão de toneladas por ano, para exportar o produto”, acrescentou. José Fernandes sublinhou que o Ministério da Agricultura e Florestas promove a cultura do cacau, não só em Cabinda, mas também nas províncias do Cuanza-Sul, Cuanza-Norte, Malanje e Uíge. Em Cabinda, disse, o cacau está a ser cultivado em toda a extensão da província, com maior destaque para os municípios de Buco-Zau e Belize. José Fernandes adiantou que, nestas duas localidades, foram distribuídas 550 mil mudas de cacaueiros, no âmbito do projecto em curso na província, ocupando uma área global de 495 hectares de terra. O engenheiro agrónomo explicou que 500 quilogramas de cacau em fruta equivalem a um período de colheita de dois a três meses, o que permite ao agricultor arrecadar cerca de 200 mil kwanzas com esta quantidade vendida, sendo que cada quilograma é comercializado no mercado local ao preço de 400 a 500 kwanzas. "O cacau está a transformar-se, efectivamente, numa cultura de renda de eleição em Cabinda”, disse José Fernandes, acrescentado que a promoção da produção teve como incidência dois indicadores-chave: a introdução de variedades de ciclo curto, que em dois anos começaram a produzir, e variedades resistentes a pragas tolerantes a variações climáticas. "Este trabalho foi feito de 2018 a 2019, e a partir de 2021 já se começou a produzir cacau em Cabinda”, revelou. Quatro mil produtores envolvidos no projecto Pelo menos quatro mil produtores, distribuídos nos quatro municípios da província de Cabinda (Cacongo, Cabinda, Buco-Zau e Belize), estão directamente envolvidos no processo de produção do cacau, no âmbito do Projecto Cadeia de Valores Agrícolas (PCVA). Nesta altura, segundo apurou o Jornal de Angola, estão a ser reproduzidas mudas de cacaueiro e distribuídas às províncias do Zaire, Uíge, Cuanza-Norte e Cuanza-Sul. "Portanto, a província de Cabinda, na produção de cacau, está a recuperar o seu papel antigo e a dinamizar a cultura deste produto agrícola considerado muito importante para ajudar a alavancar a economia, sobretudo das famílias camponesas da região”, disse José Fernandes. Uma das grandes vantagens dos produtores locais de cacau é o facto de toda a sua produção ser adquirida por duas empresas nacionais, como por exemplo a ALEC LDA - Comércio e Serviços, que além de comprar também se encarrega de supervisionar as condições em que o grão é produzido. O responsável da ALEC LDA - Comércio e Serviços, Alector Araújo, disse que a empresa controla mais de 400 produtores nos quatro municípios da província de Cabinda, que fornecem quantidades diversas em cada intervalo de dois a três meses de produção. "Uns produzem menos que outros, mas trabalhamos com todos”. Depois de adquirir o produto aos camponeses, explicou, o cacau obedece a um processo de fermentação e secagem para, posteriormente, ser levado a Luanda, na fábrica de chocolate. O empresário aponta como principais dificuldades no processo de compra do cacau o estado das vias de acesso, que dificultam as viaturas a chegarem até aos campos de produção. Quando assim acontece, disse, o cacau é transportado pelos próprios agricultores do ponto de cultivo até à zona onde a viatura pode chegar. "Muitas vezes, o processo é moroso e tem provocado certos constrangimentos com alguns clientes em Luanda”, frisou Alector. Outra grande dificuldade, segundo a mesma fonte, tem a ver com a transportação do produto, de Cabinda para Luanda, porque depende apenas da via marítima ou aérea. Além de ser oneroso, envolve também um processo demorado, uma vez que, para fretar um barco, por exemplo, a quantidade recomendável é acima de 200 toneladas. "E nem sempre conseguimos essa quantidade”, lamentou. Desafios do projecto Um dos maiores desafios que o Projecto Cadeia de Valores Agrícolas (PCVA) enfrenta, de acordo com o coordenador, José Fernandes, "tem a ver com questões de logística, porque Cabinda é uma província isolada das restantes 17”. "Só temos ligação aérea e marítima. Portanto, trazer insumos para fomentar a produção do cacau nesta província é extremamente difícil e fica muito caro”, confirmou. Segundo o engenheiro agrónomo, o produtor de Cabinda enfrenta um nível de dificuldades que eventualmente os agricultores de outras regiões do país nunca experimentaram. Uma das principais formas de se ultrapassar isso, ressaltou José Fernandes, é a construção de uma ponte, para ligar o município do Soyo, província do Zaire, a Cabinda, permitindo que a produção seja transportada por via terrestre. "Isso terá um impacto muito grande na economia nacional, sobretudo a nível da região. Mas um investimento desta dimensão teria, indiscutivelmente, outro grande impacto social e político”, reconheceu. Metas a atingir As metas que o Projecto Cadeia de Valores Agrícolas pretende atingir nos próximos anos prendem-se com a certificação do cacau produzido localmente, para que o produto possa competir no mercado internacional. Para José Fernandes, uma das metas a atingir é ver o cacau de Cabinda ser certificado com os padrões internacionais, além da criação de condições para que a província faça um pequeno investimento na área de processamento do produto. "Precisamos de ter uma marca de chocolate própria, nesta província”, disse o coordenador do Projecto, que entende que chegou a hora de se começar a ensaiar pequenos equipamentos, para que o cacau produzido em Cabinda comece a ser transformado localmente. "Assim, teríamos a ousadia de criar uma marca original de um chocolate produzido na região”, reforçou. Em relação ao chocolate produzido em Luanda, informou que cerca de 90 por cento do cacau sai de Cabinda, a maior fornecedora dessa matéria-prima. O Projecto Cadeia de Valores Agrícolas em Cabinda resulta de uma iniciativa financiada pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), com o objectivo de aumentar o acesso ao crédito e à renda agrícola para as famílias mais vulneráveis nos quatro municípios da província, nomeadamente Belize, Buco-Zau, Cabinda e Cacongo. Desde o seu início, em 2018, o PCVA tem se concentrado no incentivo à distribuição de mudas de cacau, palmeiras, café e frutas melhoradas à população rural, estimulando a produção de culturas comerciais de rendimento, beneficiando financeiramente as famílias residentes na região.