• PRESIDENTES FALAM AOS JORNALISTAS - PERGUNTAS E RESPOSTAS


    ■ TPA - Senhores Presidentes, muito boa tarde! A minha questão, para os dois Presidentes, é para perceber se projectam no futuro uma parceria na perspectiva dos hidrocarbonetos, uma vez que Angola e Timor-Leste exploram petróleo. Há em perspectiva alguma cooperação nesse sentido?

    ■ PR ANGOLA, JOÃOLOURENÇO- Sim, com certeza que este é um dos domínios das nossas economias em que procuramos reforçar a cooperação. Angola é um país produtor de petróleo e gás há mais tempo do que Timor-Leste. Timor Leste descobriu grandes jazidas e tem boas perspectivas de ser um grande produtor quer de petróleo, quer de gás.

    Mas não vamos ficar por aí, pelo sector petrolífero. A nossa ambição é cooperarmos em outros domínios, no turismo, no domínio do comércio...

    O Presidente José Ramos Horta acaba de dizer que no próximo ano, em princípio, Timor-Leste será admitido como membro de pleno direito na ASEAN e Angola - não Angola isoladamente, mas talvez ao nível dos nossos países, dos PALOP - fazermos um acordo de livre comércio com esta grande organização que abarca países com economias muito fortes daquela parte do continente asiático. Portanto, estabeleceremos relações comerciais bastante fortes.

    ■ PR TIMOR LESTE, JOSÉ RAMOS HORTA : Na área da cooperação energética, obviamente, Timor-Leste teria mais a aprender com Angola, na medida em que somos um país novo nessa área, com algum sucesso nas nossas actividades no mar de Timor. A perspectiva muito próxima, nas próximas semanas ou meses, é finalizarmos longas negociações com a Austrália e as empresas petrolíferas e de gás com interesse no mar de Timor, para o desenvolvimento do grande campo de gás que está parado há quase duas décadas. Finalmente, esperamos, vai acontecer. Tudo indica que há possibilidade de acordo.

    Infelizmente, Timor-Leste continua demasiado dependente de recursos não renováveis e não vamos nos desfazer de recursos não renováveis, apesar do nosso compromisso em transitar para recursos renováveis no futuro, e por isso, o esforço do nosso governo através da nossa empresa petrolífera e mineira, a TIMORGAP.

    Vamos continuar a tentar explorar petróleo e gás no mar de Timor e em onshore, porque já tem sido descoberto em onshore algum potencial de gás onshore, o que pode acontecer muito rapidamente em poucos anos.

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    ● RNA - Para quando a isenção de vistos em passaportes ordinários, já que os dois países cooperam e estamos aqui a testemunhar a boa relação entre Angola e Timor-Leste? Há alguma perspectiva nesse sentido?

    ■ PR ANGOLANO, JOÃO LOURENÇO- Bom, vamos devagar...

    Já é muito bom que se consiga a isenção de visto em passaportes diplomáticos e de serviço. Isto é um bom sinal. A vida é mesmo assim, não se pode querer tudo num dia, havemos de lá chegar.

    ■ PR TIMOR LESTE, JOSÉ RAMOS HORTA - Obviamente, as relações são exepcionais, exemplares, no plano político, diplomático, pessoal, com todos os países da CPLP, com Angola. Mas eu sou uma pessoa muito prática, muito pragmática, e gostaria de passar dos abraços e dos protestos de amizade para a dimensão mais prática, que é a cooperação comercial, económica, etc.

    Acredito que, com a nossa adesão à ASEAN, é minha convicção que Timor-Leste poderia ser o grande armazém para produtos de países PALOP ou CPLP, para a sua redistribuição na área, a exemplo do que é Singapura. Além de grande centro financeiro, é também um dos maiores centro de transição do mundo. A Singapura não fabrica muito, e mesmo o Dubai não fabrica muito, e são grandes placas giratórias de comércio para o sudeste asiático, a Austrália, etc. Isto é possível desde que os nossos dois governos incentivem o sector privado, incentivem com apoios, com empréstimos, com juros sustentáveis geríveis, para o sector privado. Portanto, para passarmos de discursos anuais, de declarações anuais românticas, muito de influência latina, para coisa mais prática e resultados concretos para os nossos países.

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    ●REDE GIRASSOL - Boa tarde, Senhores Presidentes. Eu sinto- me ultrapassado em algumas questões, mas gostava de fazer duas...

    A primeira, dirigida ao Presidente de Timor-Leste, tendo em conta a 'aula magna' que recebeu do Presidente angolano sobre a questões internacionais e, sobretudo, aquilo que sabe sobre Angola, pergunto-lhe qual é a sua visão em relação aos desafios de Angola, particularmente do Presidente João Lourenço, em relação ao que tem feito para a pacificação da região da SADC?

    Ao Presidente angolano...
    Gostava de saber se, da conversa que manteve com o homólogo de Timor-Leste, se avizinha, por exemplo, uma cooperação no domínio da agricultura, já que este é o principal desafio de Angola: diversificar a economia através da agricultura?

    ■PR TIMOR LESTE, JOSÉ RAMOSHORTA: Pelo menos a mim, no quadro pessoal, sou curioso - não digo estudioso - e leio, ao longo de anos, toda a evolução da situação em Angola, da guerra, da paz, como se acabou com a guerra, como se fez a paz, a reconciliação, a integração das Forças Armadas, de todos os lados. Grande lição de pacificação, de reconciliação, que não é muito conhecida internacionalmente, não tem o seu devido reconhecimento...
    O enorme sucesso como Angola terminou a guerra via diálogo, via reconciliação, etc., e que deu oportunidade para o desenvolvimento do país. Quem vem raramente a Angola tem mais a possibilidade de ver as diferenças. Se está cá todos os dias, provavelmente não vê, mas Luanda é irreconhecível.

    Hoje no carro, a caminho daqui, eu vi um edifício enorme, parecia um palácio romano. Mas que grande edifício! Afinal, ao passarmos mais perto, vi que era o Parlamento nacional!

    Vi grandes obras arquitectônicas, que são os símbolos da Nova Angola, e os edifícios servem o funcionamento do Estado. Portanto, são o justo reconhecimento dos grandes avanços, mas sendo um país enorme, com mais de 30 milhões de habitantes e tal dimensão territorial, equivalente a vários países europeus juntos, é, obviamente, muito mais desafiante. Portanto, isto eu falo do ponto de vista da minha observação.

    Acrescento, agradecendo a disponibilidade para a visita do Presidente João Lourenço a Timor-Leste, em data que decidirá em função da sua agenda. Será recebido com todo o calor humano, com todo o reconhecimento do nosso lado, pela ajuda que Angola nos deu e por, na pessoa do Presidente João Lourenço, ter sido ele a decidir abrir uma embaixada de Angola em Timor-Leste.

    Para nós é muito importante a presença de Angola, a presença dos países dos PALOP, CPLP.

    Eu tenho advogado, e informalmente junto do Secretariado da CPLP e com o Senhor Presidente, sobre a importância de cada país da CPLP estabelecer embaixadas em cada capital de outros países da Comunidade e é nesse sentido, porque isso seria uma via para maior diálogo, proximidade e mobilização no sector privado dos países PALOP ou países da CPLP.

    ■ PR DE ANGOLA, JOÃO LOURENÇO: É óbvio que existe um grande interesse de Angola em cooperar com Timor-Leste também no domínio da agro-pecuária, se tivermos em conta que os nossos países são, sobretudo, países com uma economia essencialmente agrícola.

    Estamos todos interessados em fazer a transição de países agrícolas para países industrializados, mas a industrialização dum país é um longo caminho a percorrer. A industrialização dos países passa por um grande investimento em infra-estruturas, estradas, portos, água, sobretudo energia.

    Tudo isso os nossos países estão a fazer. Mas até passarmos a considerar que somos países industrializados, ainda temos um grande caminho a percorrer. Até lá, temos que acarinhar bastante a agricultura e até mesmo garantir a segurança alimentar dos nossos países.