• DISCURSO DO PRESIDENTE EMMANUEL MACRON NO JANTAR DE ESTADO


    Palácio de Élysée, 16 Janeiro 2025
    Excelentíssimo Senhor Presidente;
    Excelentíssima Senhora Presidente da
    Assembleia Nacional;
    Excelentíssimas Senhoras Ministras;
    Excelentíssimos Senhores Ministros;
    Excelentíssimo Senhor Comissário Europeu;
    Cara delegação angolana;
    Sejam bem-vindos a Paris!
    Hoje celebramos Angola com o fervor das grandes amizades. Sim, esta noite, damos-lhe as boas-vindas, Senhor Presidente, a si e à sua nação, cujo destino é tão singular.
    Está visita de Estado ocorre num momento de recomposição do mundo que descrevi há alguns dias nesta mesma sala, perante os nossos embaixadores. Desordens geopolíticas, tecnológicas e até filosóficas estão a solapar a confiança na Democracia, na paz e na liberdade. Para fazer face a estes desafios, é crucial a nossa relação com África. Crucial para forjar novas relações baseadas em intercâmbios mutuamente benéficos, que nos permitam enfrentar juntos os grandes desafios de amanhã: clima, segurança, economia, demografia.
    Desde os nossos primeiros intercâmbios em 2018, percorremos um caminho que nos permitiu forjar uma relação mais forte e mais vibrante do que nunca. Disso testemunham a minha visita a Luanda em Março de 2023 e a presença de Vossa Excelência hoje em Paris. Mas esta relação vai muito mais além de nós. É uma relação animada pelos empresários, professores, artistas, designers, desportistas, actores institucionais, mulheres e homens que formam o rosto da nossa amizade. Esta noite celebramo-los.
    São eles que criam os laços entre os nossos dois países. Um grande escritor português, António Lobo Antunes, escreveu que Angola era, no imaginário europeu, “a outra margem do mar”. Neste mar, neste oceano, estamos todos a construir pontes sólidas que nos permitirão encarar o futuro com confiança.
    Estas pontes são, antes de mais, relações económicas fortes e em crescimento. Nem todos sabem que a França é o primeiro investidor em Angola. Setenta empresas francesas estão presentes no vosso país, empregando 15 mil pessoas, com um stock de investimento de 18 mil milhões de Euros. Estamos a reforçar as nossas parcerias em sectores tão variados como a energia, a saúde, a agricultura, a água, a eletricidade, os transportes e até o espaço, com o fornecimento de um satélite. A França e a Europa estão também ao vosso lado para o desenvolvimento do Corredor do Lobito, uma das chaves do futuro de Angola e da região, e no qual estão em primeira linha os investidores europeus.
    Este espírito de fraternidade e de respeito abrange também a cultura viva e contemporânea. Congratulo-me com o apoio da nossa embaixada aos jovens artistas angolanos, aos seus projectos e ambições, como o festival Angojazz em Luanda, um festival anual de jazz iniciado por músicos angolanos e que adquiriu uma dimensão internacional.
    Esta noite, quis prestar homenagem à cultura angolana, nomeadamente à kizomba, o estilo de dança e música que Angola gostaria de ver classificado como Património Mundial da UNESCO.
    Não esqueço o francês, uma língua que partilhamos, falada por uma parte da população angolana e que Vossa Excelência pretende desenvolver, seguindo a dinâmica da adesão de Angola à grande família francófono na cimeira de Villers-Cotterêts em Outubro passado. Duas novas escolas Eiffel, que oferecem uma excelente formação científica bilíngue francês-português aos jovens angolanos de todas as classes sociais, serão inauguradas em Angola em 2025 e 2026. Saúdo a acção da Primeira-Dama, madrinha desta rede que continuaremos a apoiar e a desenvolver.
    Minha senhora, Vossa Excelência e a minha esposa visitaram hoje o Castelo de Versalhes, onde admiraram as estátuas do século XVIII que retomaram o seu lugar no Castelo em 2022, graças a Angola, que restituiu à França as obras que os acasos da História haviam deixado na sua posse - um gesto de amizade que a França recebeu com amizade.
    Senhor Presidente, Vossa Excelência está também a construir a sua influência através do papel que pretende que Angola desempenhe no mundo. Queremos aqui prestar homenagem à sua determinação inabalável na condução de processos regionais ao serviço da paz, como o Processo de Luanda entre a República Democrática do Congo e o Ruanda. E como, em breve, irá assumir a presidência da União Africana, quero dizer-lhe que pode contar com o nosso apoio, recordando que assumiremos a presidência do G7 em 2026.
    Numa altura em que Angola tem um papel tão decisivo a desempenhar em prol do futuro do continente africano, quero prestar homenagem ao seu passado glorioso. Gostaria de citar um excerto do poema “Havemos de Voltar” que Agostinho Neto, o pai da Independência, escreveu da sua cela em Lisboa para sonhar com o dia feliz em que regressaria a uma Angola livre e independente.
    Havemos de voltar
    À Angola libertada
    Angola independente
    Esse dia feliz chegou e foi seguido por um sucesso impressionante a que estamos a assistir 50 anos após a vossa independência. Outros dias felizes virão, marcados com o selo da liberdade, da fraternidade e do progresso. Esta é a esperança que nos une, Excelentíssimo Senhor Presidente, e que une aos nossos dois povos.
    França e Angola, estamos juntos!