Os Presidentes João Lourenço e Teodoro Obiang Nguema defenderam o reforço das relações entre Angola e a Guiné Equatorial, dois países com muito em comum: ambos africanos, costeiros banhados pelo Atlântico (Golfo da Guiné), membros de organizações como a CEEAC, a União Africana, os PALOP e a CPLP.
As posições foram manifestadas na sua interacção com a imprensa, que aconteceu pouco depois de terem sido assinados acordos de cooperação em domínios essenciais como a aeronáutica e a agricultura.
DECLARAÇÃO INICIAL AOS JORNALISTAS DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO
Muito boa tarde a todos!
Angola tem o privilégio de acolher, no seu solo, o Presidente Obiang Nguema, Presidente da República da Guiné Equatorial, que, à frente de uma importante delegação governamental, efectua uma visita oficial ao nosso país.
Nós damos, a ele e à a ua delegação, boas-vindas a Angola. É do interesse de Angola aprofundar os laços de amizade e de cooperação entre os nossos dois países.
Temos em comum o facto de sermos todos países africanos, membros de duas importantes comunidades: a Comunidade dos Estados da África Central, mas também da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa.
Em 2022, teve lugar a Comissão Mista entre os nossos países. De lá para cá, foram assinados vários acordos de cooperação que vêm sendo paulatinamente implementados. Mas entendemos que, por haver ainda muito potencial nas nossas relações de cooperação, estavam em falta outros diplomas que acabaram por ser assinados há instantes, aqui na presença de todos.
Portanto, Senhor Presidente, seja muito bem-vindo mais uma vez e que Angola, no que depender de si, tudo fará para que o nível das nossas relações de amizade e de cooperação atinja um patamar mais alto possível.
Muito obrigado!
DECLARAÇÃO INICIAL À IMPRENSA DO PRESIDENTE TEODORO OBIANG NGUEMA
Muito obrigado!
Vou intervir em espanhol, embora o meu país seja Estado-Membro de pleno direito dos países da CPLP. Agradeço ao meu irmão, o Presidente João Lourenço, a quem transmito os nossos agradecimentos por essa recepção tão fraternal.
A razão é que Angola é uma nação importante na África Central, e tendo em conta que o meu irmão, o Presidente João Lourenço, em breve assumirá a presidência da União Africana, quis vir para abordar temas de grande actualidade dos países africanos.
Assim, abordámos problemas que dizem respeito ao continente africano, sobretudo o problema da segurança de África, o desenvolvimento e a estabilidade dos governos.
Ficámos contentes e satisfeitos porque, a nível da África Central, o único país que enfrentou problemas de mudança anticonstitucional foi a República Gabonesa, que neste momento está a implementar o programa de transição.
Realizou o diálogo, organizou a conferência do referendo para adoptar a nova Constituição. Agora, esperamos pelas eleições presidenciais. Penso que estamos muito melhor do que ocorre na região da África Ocidental.
Também abordámos temas relacionados com a segurança do continente africano, sobretudo no âmbito do Conselho de Segurança, porque pensamos que África é o único continente que não possui um assento no Conselho de Segurança.
Acredito que, como África é a região que enfrenta mais problemas políticos e de segurança mais complexos, é necessário que continue a solicitar aos cinco países membros permanentes que concedam dois assentos ao continente africano no Conselho de Segurança, com todas as prerrogativas, incluindo o direito de veto, o que ainda não foi alcançado.
Tendo em conta que o meu irmão vai assumir a presidência da União Africana, penso que este é um ponto bastante importante que devemos tratar na próxima cúpula da União Africana, para que possamos apresentar uma proposta convincente aos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança, pedindo que tenham a benevolência de conceder ao continente africano dois assentos no Conselho de Segurança.
No tema económico, também abordámos a situação dos intercâmbios, ou seja, da Zona Continental de Livre Comércio, para que haja trocas de produtos sem sobrecarregar os impostos dos países africanos, permitindo fortalecer os nossos mercados.
Angola, neste momento, é um país que está a começar a tornar-se industrial. Acredito que temos a possibilidade de começar a solicitar produtos de Angola que possam entrar na Guiné Equatorial. Da mesma forma, convidamos os empresários de Angola para que também possam vir à Guiné Equatorial fazer os seus investimentos.
Portanto, abordamos vários outros temas. Penso que os principais são os que acabei de mencionar e reitero, mais uma vez, a nossa satisfação.
PERGUNTAS & RESPOSTAS
TPA - Excelências, a segurança alimentar tem sido a aposta dos governos africanos. Há instantes, testemunhou-se a assinatura de um acordo que vai ligar os dois países na área da pecuária e florestas. Gostava de saber como é que os dois governos pensam trabalhar no domínio das florestas e da pecuária?
PRESIDENTE NGUEMA - Acredito que a base do desenvolvimento dos países africanos está precisamente no desenvolvimento das respectivas economias. A economia faz-se, fundamentalmente, com o desenvolvimento agropecuário. Penso que temos de trabalhar para que ambas as nações possam desenvolver ss suas actividades agropecuárias, a agricultura e a pesca, que podem assegurar os nossos mercados. Essa é mais ou menos a explicação que posso dar acerca deste acordo.
PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO - Nós acabámos de vir da cidade de Kampala, onde tivemos a oportunidade de presidir a uma cimeira da União Africana que tratou precisamente da agricultura no nosso continente. Isso para ver a importância que a agricultura tem para os nossos países.
A agricultura constitui, sem sombra de dúvida, o principal motor das economias dos países africanos. É evidente que aspiramos dar o passo seguinte, para algum dia chegarmos a ser países industrializados, mas, enquanto isso, necessitamos de fortalecer a nossa agropecuária, sobretudo transformando os produtos do campo, localmente, acrescentando-lhes valor, dando emprego aos nossos jovens nesta actividade de transformação dos produtos do campo, fazendo com que, por um lado, os produtos do campo cheguem à mesa do consumidor em melhores condições, como também fazer com que exportemos esses mesmos produtos do campo já transformados com preços muito mais competitivos do que a exportação na sua forma mais bruta.
Em relação às florestas, neste momento em que muito se fala das alterações climáticas, e porque as maiores florestas do mundo estão na América Latina, nomeadamente no Brasil, mas também em África e na Ásia, nós devemos dar o nosso contributo à Humanidade para a preservação do Ambiente.
As florestas, como sabem, acabam por constituir o pulmão que produz o oxigênio para o planeta Terra. A sua preservação é imprescindível para a sobrevivência do ser humano. Estamos, infelizmente, a assistir à ocorrência de fenómenos devastadores, como secas, inundações, incêndios. Agora mesmo, infelizmente, estamos a assistir àquele triste cenário em Los Angeles, na Califórnia. Tudo isso são consequências muito visíveis do mau tratamento que nós, seres humanos, temos dado à Natureza.
Portanto, quem tem florestas deve preservá-las, deve cuidá-las, e, se possível, ampliá-las. Desta forma, estaremos a contribuir para a luta contra as alterações climáticas.
REPÓRTER DA GUINÉ EQUATORIAL – Os dois países fazem parte da CPLP e dos PALOP. Quais são as perspectivas após este encontro para a implementação dos acordos já assinados por ambas as partes?
PRESIDENTE NGUEMA - Como já disse antes, para nós, Angola é importante para uma nação como a nossa estreitar as nossas relações de amizade e cooperação e para implementar os programas de desenvolvimento de ambas as nações.
Evidentemente, a nossa participação através da União Africana, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da CEEAC e das Nações Unidas, deve permitir-nos promover um desenvolvimento racional que possibilite ambas as nações alcançarem níveis de desenvolvimento e estabilidade para as nossas populações.
Penso que a diversificação da economia é um programa muito importante que já foi traçado a nível das Nações Unidas e da União Africana.
Além dos esforços internos que já existem, também precisamos trocar as nossas experiências. Por isso, acredito que as nossas experiências com Angola podem contribuir muito para o desenvolvimento da Guiné Equatorial. E gostaríamos que Angola também explorasse as oportunidades da Guiné Equatorial, as possibilidades que podem permitir que os empresários angolanos aproveitem as nossas potencialidades.
Devemos dar prioridade à cooperação Sul-Sul, pois é a cooperação que vai garantir desenvolvimento aos nossos mercados, porque faremos uma cooperação de igual para igual. A nossa cooperação não tem condicionantes, como ocorre com certos países que nos impõem essas dificuldades.
Vamos também tratar das grandes organizações económicas internacionais. É preciso não aceitar algumas condições políticas irracionais, condições que não nos permitem continuar a viver como países soberanos e independentes.
A Guiné Equatorial, nesse sentido, rejeitou várias vezes essa cooperação. Mas estamos a trabalhar. Penso que é melhor firmarmos alianças com países irmãos, como Angola. Será uma cooperação mais segura, mais racional, uma cooperação que nos permitirá o desenvolvimento sem o medo de ter que se comprometer com condições políticas.
Somos membros de organizações internacionais, mas precisamos continuar a trabalhar justamente por essa condição de membros, para implementar uma cooperação sem condições políticas. Esse é, mais ou menos, o ponto de vista do Governo da Guiné Equatorial.
PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO - Eu vejo perspectivas de cooperação entre os nossos dois países com muito potencial e, a princípio, com muito sucesso, se ambas as partes - Angola e Guiné Equatorial - fizerem um esforço no sentido de materializar aquilo que ficou estipulado nos diferentes acordos e noutro tipo de diplomas legais de cooperação que já foram assinados até à presente data.
Nós temos uma vantagem que é a proximidade dos nossos países. Estamos bastante próximos, cerca de duas horas de voo. Ambos somos territórios do Golfo da Guiné, banhados pelo mesmo oceano e com uma distância curta. Isso pode facilitar as trocas comerciais entre Angola e Guiné Equatorial.
No quadro da cooperação Sul-Sul, a que se referiu o Presidente Obiang Nguema, nós também pensamos que, sem prejuízo de continuarmos a manter a cooperação e a parceria com outros países de outros continentes, mesmo longínquos, devemos, sem sombra de dúvida, fortalecer e, se calhar, privilegiar as relações entre os países do chamado Sul Global, pelas razões que nós conhecemos.
Portanto, o futuro é risonho, as perspectivas são boas, tudo depende apenas da vontade dos homens e, neste caso, dos governantes, mas também das populações dos dois países.
REDE GIRASSOL -
Há instantes, o Senhor Presidente João Lourenço falava da proximidade entre os dois países e foi aqui assinado um acordo no domínio da cooperação técnica aeronáutica. Há perspectiva deste acordo, nos próximos tempos, avançar para a abertura de uma linha directa entre Luanda e Malabo e vice-versa?
PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO – É bom que isso venha a acontecer. Vamos deixar isso ao nível dos ministros. A luz verde está acesa para que eles possam desenvolver todas as possibilidades de cooperação neste domínio da aeronáutica.
Como sabemos, o nosso continente tem um grande déficit de ligação entre países. Em todo o tipo de ligações - ferroviária, rodoviária, aérea -, o déficit é bastante grande e esse tipo de acordos é sempre bem visto, no sentido de procurarmos reduzir o máximo possível esse déficit.
O continente tem poucas companhias aéreas e essas não têm sido capazes de interligar todos os países africanos entre si, havendo mesmo situações em que, para sair de um país para o outro, tem que se ir para muito longe e voltar para o continente. Agora mesmo, o Presidente Obiang Ngema esteve a dizer-me que da Guiné-Equatorial, que está aqui ao lado, para se chegar a Angola, tem de se ir a Addis Abeba apanhar a Etiópia Airlines. Isso seria facilitado se as nossas companhias aéreas fizessem a ligação directa entre as duas capitais.
PRESIDENTE NGUEMA - O problema dos africanos é que firmamos acordos, muitos acordos, e não sabemos implementar esses acordos, quer dizer, materializar esses acordos. Agora, temos firmado acordos que facilmente se podem implementar, como o acordo da aviação civil.
Angola está com uma companhia, a companhia aérea TAAG, que está a cobrir serviços de Angola até Lisboa; eu acho que também vai a outros países…
A Guiné-Equatorial pensa que a companhia angolana pode fazer voos de Luanda para Malabo, possivelmente São Tomé, Guiné-Bissau, Cabo Verde…até Lisboa. Ajudaria muito aos passageiros das nossas nações chegarem facilmente à Europa e às nações que citámos.
Vou dar um exemplo do sofrimento do continente africano: uma delegação da Guiné-Equatorial que tinha que participar da cerimónia de Independência do Zimbabwe teve que sair da Guiné-Equatorial, passar por Madrid, Londres, e de Londres até Harare.
Imaginem que volta é essa. Hoje, sofremos muito com a companhia da Etiópia, porque, por exemplo para os passageiros de Guiné Equatorial que querem vir a Angola, passam até à Etiópia, que tem a política de levar até Addis Abeba, e de lá, voltar outra vez aqui, a Luanda, quando aqui o voo está a duas horas da Guiné Equatorial. Por que é que nós temos que passar quatro horas de Malabo, Guiné, a Addis Abeba e deste para Luanda, outras quatro horas ou seis?
Estamos a sofrer ainda. Acho melhor que implementemos os serviços das nossas companhias para desbloquear, facilitar, e que os países africanos possam ter um deslocamento rápido de um país para outro.
Sobre os acordos na agricultura, Angola está bem experimentada neste sector, mais do que a Guiné-Equatorial. Acredito que temos que seguir também os passos que Angola está a dar, para que nós também possamos seguir a mesma dinâmica agrícola, de maneira que tenhamos que superar as dificuldades que conhecemos actualmente. África ainda tem os seus desafios, tem as suas dificuldades. Nós temos firmado um acordo, mas animo os nossos governos para a implementação de todos os acordos que nós firmamos.
REPÓRTER DA GUINÉ EQUATORIAL - Qual é a estratégia que Suas Excelências têm para enfrentar os riscos que África enfrenta, como o terrorismo, os conflitos armados, a crise alimentar e outros fenómenos, para se alcançar a África que queremos, mais inclusiva e próspera?
PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO - A estratégia a seguir é a do diálogo, de conversar com todos e de respeitar os princípios estabelecidos pela organização continental, a União Africana, com o objectivo de tentar resolver os graves problemas que o nosso continente infelizmente enfrenta, começando pela instabilidade política, as guerras, o terrorismo, as tomadas do poder por vias inconstitucionais.
Tudo isso são fenómenos que jogam no sentido contrário ao desenvolvimento económico e social que queremos para os nossos países. Sem paz e sem estabilidade não há desenvolvimento económico e, consequentemente, não há solução dos problemas sociais das populações africanas.
Albemaro
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Ambos os Presidentes sublinharam a importância da cooperação entre países africanos, destacando que parcerias como a de Angola e Guiné Equatorial podem ser um modelo de desenvolvimento sem imposições externas, garantindo autonomia e crescimento mútuo.
2 d
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Presidência da República - Angola
2 d ·
ALMOÇO EM HONRA A OBIANG NGUEMA
Como último acto da visita oficial a Angola, o Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, participou de um almoço em sua honra, oferecido pelo Presidente da República de Angola.
As Primeiras Damas de Angola e da Guiné Equatorial também participaram do almoço, que teve como cenário o Salão Nobre do Palácio Presidencial.
Maria Alberto
O evento foi um marco na visita de Teodoro Obiang a Angola, oferecendo um momento de reflexão e celebração sobre as conquistas alcançadas até o momento e as futuras iniciativas que ambas as nações podem explorar juntas.
2 d
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